domingo, 31 de março de 2013

Testamento do Judas 2013 por Tiago Palma Rio

A Queima do Judas 2013 é patrocinada por:

Benemérita Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Fão. *1
John. O filho da Cindinha. *2
Comissão de Festas do Senhor Bom Jesus de Fão. *3
Tiago Rio. Um rapaz qualquer que anda para aí, e que não percebe nada disto.*4
(Música “Fechar a ponte” *5)

Boa noite, ilustres amigos fangueiros. Mais um ano que passou e São Judas volta com tristes e boas novas e as mesmas irrelevantes opiniões de sempre.
Desta vez, o Santo que protagonizou com Cristo a salvação da humanidade, regressa do paraíso lutando a todo custo contra a arrogância que traz na alma, própria de um salvador tomado por traiçoeiro, e procura dessa forma substitui-la por uma sagacidade mais respeitosa.
Regressa São Judas para levantar aquelas que são as verdadeiras grandes questões dos dias de hoje desta vossa terra.
A título de exemplo:
1. O que é um mangalho?
2. O que é feito do Pinho? – que nunca mais o vi...
3. Um palmier registado sabe melhor que um palmier não registado? Certamente que talvez. Mas, se o for, não há de ser por estar registado.
Regressa São Judas, enfim, para todo um rol de parvoíce em torno de alguns parágrafos e muuuuitas quadrinhas… e uma quintilha.
E vou parar de falar de mim na terceira pessoa porque…enfim. Apesar de dar bastante estilo, não passa apenas de uma forma de afastarmos de nós as nossas culpas. E eu sou culpado, confesso. Mas não interessa agora de quê. Respondendo à primeira pergunta “o que é um mangalho?” – para quem não sabe, é uma espécie de frade do cais, mas em ponto muito pequenino. É tempo de vos contar a parábola do bombeiro.
Num mundo onde o dinheiro compra a felicidade, um jovem era feliz com a sua vida de bombeiro voluntário. Mas nesse mundo, o desejo pelo consumo, o brio na aparência, a ganância!, não escapam a um único ser humano, nem mesmo a um bombeiro voluntário.
Então, o jovem bombeiro pegou na mangueira e foi apagar fogos a grutas húmidas, em frente a câmaras de segunda classe. Câmaras essas que registaram a operação em vídeo do género daqueles que só se vêm na internet.
Gratuitamente podia ver-se apenas o trailer do filme, e como no mundo não faltam cibernautas curiosos acerca das grutas húmidas que incendeiam, esse maravilhoso fenómeno, o jovem bombeiro tratou de comprar um carro de melhor marca. Cor, nem por isso. Fim.
Será legítimo se ripostarem: “Mas oh São Judas. Uma parábola é um discurso alegórico em cuja essência de toda a narrativa se deve subentender uma lição de moral, uma verdade importante! Onde é que está aqui a alegoria? Não há alegoria, não há parábola!”
Têm razão. Nesta história não há verdade importante nenhuma. Uma vez que eu, como qualquer um, apesar de ter salvado a humanidade, não posso retirar aquilo que digo, prossigamos como se nada se tivesse passado. Podemos facilmente esquecer o assunto com anedotas. Eu este ano fiz um apanhado das 5 melhores anedotas e vou contá-las aqui em menos de um minuto.
A primeira: União Europeia ganha prémio Nobel da Paz. (Ri-se) Está muito boa, esta.
A segunda: Pedro Proença eleito o melhor árbitro do mundo. Também está boa.
A terceira: RFM, só grande músicas. (Canta música da Rhianna) “Just gonna stand here ‘churrasco’ nights”
A quarta: Ministro das Finanças enganou-se nas contas.
A quinta e última anedota: Ministro das Finanças enganou-se nas contas. Outra vez. E ainda não se demitiu.
Quem se demitiu foi o Papa Bento não sei quantos. É chocante, eu sei – ver o próprio Papa a renunciar a Deus. Não se esqueçam agora de perguntar ao Francisco se a vaca e o burro podem ou não estar no presépio. Se podem usar preservativo ou não. Se a canzana continua a ser uma posição humilhante para a mulher. É que, acerca de tudo isto, quem sabe é o Papa. A sugestão do Papa Bento quanto aos animais no presépio foi a gota d’água na fé da vaca da junta - ela que tinha como única esperança ir um dia parar a um presépio. Um desses 577 que se fizeram em 2011.
Apesar de ser chocante, poderá alegar-se que a própria demissão do Papa aconteceu por vontade de Deus. Porém, se não foi por vontade de Deus que aconteceu a demissão do Papa, o velho vai-lhe dar nas orelhas. Vai ouvir das boas, o menino.
Mas quem vai ouvir das boas e agora é o grupo de teatro GATA. Onde é que eles estão? Ai os meninos! Como é? Têm muito que fazer é? Não sei se já experimentaram perguntar a um membro do grupo de teatro quando é que sai a peça.
-Então pá, quando é que sai a peça?
- Eh pá, vamos ver, vamos ver…estamos aí… sabes como é… vamos ver… a ver se é desta que arranca. Então e o nosso Benfica? - Eles a disfarçar.
Sejam o Grupo de Teatro que dizem que são. Ponham os olhos no Clube de Futebol de Fão, que cumpriu com o seu estatuto e nome de Clube de Futebol de uma terra onde quase ninguém gosta de futebol, e abriu falência. Ponham os olhos nos bombeiros, que dizem que apagam fogos e apagam mesmo! Eu vi na internet. Não ponham, por favor, não ponham os olhos na Santa Casa da Misericórdia, que com toda essa misericórdia não é capaz de ser misericordiosa por menos de 25 euros. Não tem graça nenhuma, porque quer, ainda assim, elevar-se ao respeito dos que são ou foram realmente santos. Quer dizer… ouvir dizer que por um euro até se come bem, lá.
Peço desculpa ao clube de futebol, aos bombeiros e à santa casa. Nada disto é pessoal, não tem nada que ver convosco. Estou só a dar um sermão aos membros da GATA, como bem se lembram. Ficam então apenas estas palavras amigas, já que não têm um cão que lhes ladre.
Ah! Por falar em cão... Lembrei-me mesmo agora. Não está aqui escrito nem nada. E isto que acabei de dizer também não está aqui escrito nem nada. E mesmo isto não está aqui escrito nem… por falar em cão – já há muito tempo que não vos falo do cão do senhor José Artur, tema preferido de muitos, e por isso vou fazê-lo agora. Reparei recentemente no seguinte: a família do Rei Artur arranjou um cão numa data relativamente próxima à da vitória do PS nas autárquicas de 2009. A esse cão, resolveu a família chamar de Fão. Pareceu-me então que esta foi a única maneira que o Rei Artur arranjou para poder continuar a dizer que manda em Fão. “Fão, senta!” E o Fão senta. “Fão, rebola!” E o Fão rebola. “Fão, vai ao cantinho dos lírios cravar rojões!” E lá vai o Fão.
Mas atenção, a actual Junta também legou esse direito de mandar em Fão, na tomada de posse. “Fão, paga os alvarás do cemitério.” E lá vai o Fão pagar os alvarás. E vai provido de dentes grandes e afiados, força bruta e vontade própria. E vai um desgraçado reclamar o seu dinheiro de volta, que pagou voluntariamente porque lhe mandaram e regressa apenas sabendo que o pagou voluntariamente porque lhe mandaram. Hum… “ pagou voluntariamente porque lhe mandaram”. Oooh Fão!, extremosa terra de peripécias contraditórias. Aaaah. Esta terra é do caraah ahaha lho ah ah. É que não consigo perceber se a culpa é do dono, ou se é do cão.
Mas voltando ao cão. Agora há mais um cãozito no palácio real a que o Rei Artur resolveu chamar de Toy. O cão chama-se Toy. E cá está. A piada é esta. É o nome do cão.
Já há muito vai o tempo em que no Novo Fangueiro podíamos ler uma notícia sem opiniões pessoais de quem as escreve. E é tudo quanto a jornais que há na internet. Quanto aos cemitérios que há na internet…
Ora… quanto aos cemitérios que há na internet. Vamos ser objectivos. Um Website pode ser um jornal. Uma notícia no papel continua a ser uma notícia na internet – a não ser que tenha opiniões pessoais de quem as escreve. Uma crónica no papel continua a ser uma crónica na internet. Agora, um ramo de flores no cemitério não é um ramo de flores na internet. Uma velinha, um santinho, uma campa, não são nada disso na internet. E as almas dos mortos que ficaram nas almas dos vivos, a memória que há dos mortos (que é o melhor que se pode ter deles), não têm nada que ver com isto. Nem com cemitérios reais nem com cemitérios virtuais. Tem tudo que ver apenas com almas e memórias. Acho eu. Mas deu barulho não deu? Eu avisei que era melhor ir pró forno.
Eu por acaso conheci um individuo que é fanático por redes sociais. Quantas pessoas ele já conheceu no mundo, são quantas as vezes ele já disse o seguinte “Olá eu sou o Sérgio. Adiciona-me no Facebook, no Orkut, no Hi5, no Baddo, no Google Plus…” O gajo se soubesse do Cemitério Online, matava-se só para se poder inscrever. E pronto… uns matam-se por isso, outros matam-se porque não aguentam, nesta vida, a ideia de que há um Cemitério Online. O que cria aqui um certo equilíbrio. Cemitério Online… será isto o futuro? Olha, qualquer dia manda-se o morto por e-mail – queres ver? Mas fora de brincadeiras, quanto a todos esses assuntos do cemitério, real e virtual, eu apelo à vossa serenidade. Eu, São Judas, vejo o mundo de cima. Nada do que aconteceu foi por maldade. Mas até com a maldade se deve lidar serenamente. Se não, só haverá mais maldade. Portanto, o que eu quero dizer é que, se algo vos indigna imenso – como a união de freguesias, por exemplo – protestem com serenidade. Plantai uma bomba na Assembleia pacificamente. Ateai fogo a Bancos pacificamente. Fechai a ponte pacificamente. (Isto é sempre a subir. Cada ideia mais impraticável que a anterior) E já estamos, de novo, a entrar no domínio da palhaçada.

Vamos às Quadras


O mundo não vai nada bem
            Estamos em escassez de paz
            Agora é que é preciso que o Homem
            Mostre do que é capaz.

Para ajudar nesse sentido
            É que venho aqui a Fão
            Deixar ideias na cabeça
            Coragem no coração.

Começando pelos Bombeiros
            Que por todos arriscam a vida -
            Quem pratica tão nobre causa
            Merece uma vida comprida.

Há muito bombeiro que a não tem
            E por isso deixo prudência
            Para que a usem bem
            Mesmo em caso de emergência.

(Já morreram bombeiros
            Para se salvar delinquentes… debruçai-vos sobre isto…mais tarde)

Ao Dom El Rei José Artur
            Este ano vou deixar
            Um brilhante microfone
            Para pôr o Toy a cantar.

Para a GATA que não mia nem lhe deixam
            Miar, nem que de joelhos peça,
            Deixo uma catapulta
            Para lançarem a peça.

Note-se que rimei com palavras
            Auditivamente iguais
            Mas note-se também que pertencem
            A diferentes classes gramaticais.

Para quem tem almas que se foram
            Deixo tanques de aguarrás
            Para lavarem a indignação
            Que causaram os Alvarás.

Ao Clube de Futebol
            Que vai em posição funda
            Deixo uma corda bem bamba
            Para se aguentar na segunda.

Digo a segunda vida do Clube
            Para a primeira esgotou-se a esperança
            Nesta vida o Fão nunca viu
            Depois de tempestade, bonança.

Se houver segunda vida para o Fão,
            Já que esta já muito descamba,
            Deixar-lhes-ei então
            Essa tal corda bem bamba.

Por ter muitíssimos atletas
Ao Hóquei Clube de Fão
Deixo um Estádio só p’ra eles.
Fica livre o pavilhão.

E para que lá, no pavilhão
Não chova nem caia pedraço
Deixo pr’a servir de tecto
Setenta e três tábuas de aço.

No Clube Náutico não chove
Mas enche-se de água do rio.
Não sei porque se queixam de um luxo
Que só lhes devia dar brio.

Não é qualquer Clube Náutico
Que tem ligação directa ao rio.
Parecendo que não, ajuda
A amansar o arrepio.

Às discotecas e bares fangueiros
Para que haja a pura da loucura
Deixo grutas para explorar
E frades do cais em miniatura.

Pergunto ao crítico José Sócrates
            Se é que ele me está a ouvir:
            Que lhe deu para opinar depois de fugir?

Ao ministro Vítor Gaspar
            Se me está a ouvir também,
            Deixo máquina de calcular
            P’ra que faça as contas bem.

E há para aí outro ministro que
            Já tem idade para ser mais velho
            Não é outro senão, obviamente,
            Dr. Pedro Passos Coelho.

O ministro manda em sua mansão, não na Nação!
            Que é como quem diz “O povo é quem mais ordena.”
            Fão diz não, caramba! Fão diz não!
            Nem que a vaca tussa, nem que no touro nasça pena.

Fui ver os ensaios das marchas
            Passei pelas Pedreiras, catrapum!
            Caí na berma da estrada.

Mas agora é qualquer um
            Que põe uma marcha ensaiada?

Para a Cooperativa Cultural
            Da qual se tem visto pouca cultura
            Lembro apenas que foi há muito
            Que acabou a ditadura.

Já foi há muito, contudo
            Parece que a vida está dura.
            Mas o que seria de esperar
            De um povo que se autocensura?

Os partidos são partidos
            Porque partem o país.
            Pagam pecados a privados com pilim público.
            Põem o povo infeliz.

Já não percebo nada disto
            Estão-se a perder os valores.
            Qualquer dia já nem haverá doentes
            Suficientes para todos os doutores.

Doenças já as há que chegue
            (Hã? Que foi que ele disse?)
            Doenças – já- as- há- que – chegue. Portanto:
            Há muitas doenças, porém
            Os doutores procuram doentes.
            Os soldados, horas expedientes.
            As escolas, clientes.
            E até já morreram bombeiros
            Para se salvar delinquentes.
            E muitos desses delinquentes só precisavam que lhes salvassem da ressaca.
            Eu estou a dar-lhe muito nos bombeiros não estou? A defendê-los muito… Nem é que me importe com eles. É só mesmo porque ando a micar uma miúda bombeira muita gira que anda aí. Mas também, sempre que venho cá é para morrer passados 15 minutos, por isso… que se lixe.

Por falar em morrer,
            Falecer, padecer, sucumbir
            A morte ainda não me chegou
            Mas já a consigo sentir.

Lá me irão estourar o corpo
            Não sei se mereço ou não.
            De qualquer modo espero piamente
            Que sirva, ao menos, de lição.

Vou arder, já estou a ver
            Deus vestido de morte
            Não reclamo do azar
            Agradeço pela sorte.

Adeus a todos meus irmãos
            Sede felizes, imensos, ao monte
            Não deixeis sair a revolta
            Fechai apenas a ponte.

E lá vou eu estourar.
            Que estrondeira. Que ‘ta de estrondeira belhote!

Até sempre Fangueiros.







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